quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A VIOLÊNCIA POLICIAL E A LUTA CONTRA A REPRESSÃO NA USP



Há nove meses os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) protagonizavam uma dura luta, que envolveu grandes atos, ocupações e greve, cujo objetivo era impedir a presença da polícia militar nas dependências da universidade e acabar com a política repressiva e persecutória do reitor João Grandino Rodas. Nesse momento, uma parte importante do movimento estudantil da USP, consciente que a polícia leva a frente um verdadeiro genocídio contra a população pobre e negra, tomou para si a consigna: “Fora polícia da USP, das favelas e das periferias”. 
Durante a mobilização dos estudantes, que contou com forte apoio do Sindicato dos trabalhadores da USP (SINTUSP), a imprensa burguesa, porta voz do governo paulista e da reitoria da USP, levou a frente uma feroz campanha contra os estudantes que lutavam contra a presença da polícia, tentando mostrá-los como um “pequeno grupo de pessoas que desejavam ter alguns privilégios”. O Governo do PSDB, a Reitoria e a mídia pretendiam, dessa forma, jogar a opinião pública contra os estudantes garantindo que estes ficassem isolados em sua luta. Para isso foi montado toda uma ficção que mostrava a polícia como defensora da integridade dos alunos em face de um suposto “clima” de insegurança que a reitoria, e lamentavelmente parte das direções do movimento estudantil, fazia questão de propagar. Tentavam, desse modo, omitir o necessário debate de que a polícia - que na USP é parte dos instrumentais repressivos do Reitor para efetivar seu plano de privatização da universidade - tortura, prende e assassina centenas de pessoas por ano só no Estado de São Paulo.

Quase um ano depois dessa grande luta levada a frente pelos estudantes da USP, cujo saldo foi a prisão de 73 pessoas e processos administrativos em curso com o objetivo de expulsar estudantes e demitir funcionários, assistimos a uma escalada sem precedentes da violência policial no Estado de São Paulo. Segundo dados da própria Ouvidoria da Polícia 36 pessoas foram mortas por mês pela PM entre fevereiro e abril de 2012. Em maio, o índice saltou para 52 casos (alta de 44%). O batalhão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a unidade de elite da polícia paulista criada nos anos mais sombrios da ditadura, aumentou seu índice de letalidade em 78% em um período aproximado de cinco anos, entre 2007 e 2011. A Rota matou 46 pessoas que teriam resistido à prisão em 2007. Nos anos seguintes o número foi se elevando até atingir 82 em 2011. Nesse ano, em apenas um caso, a Rota assassinou seis pessoas na zona leste de São Paulo.
Durante o mês de junho de 2012 os dados já apontavam dezenas de jovens mortos pela polícia. Há, inclusive, relatos de vários toques de recolher realizados pela polícia em alguns bairros da periferia. A população foi impedida de sair das suas casas pelos policiais. Esses dados, que nos últimos meses estiveram mais altos do que nunca, apenas mostram uma parte (ao que tudo indica o número de mortes e torturas causadas pela PM é bem maior do que os dados oficiais) do cotidiano dessa instituição. E mais, segundo recente pesquisa do instituto “sou da paz” 93% das mortes causadas pela polícia ocorrem na periferia (!). Fica mais do que claro que são os trabalhadores, sobretudo os mais pobres e precarizados que moram nos bairros periféricos, os que mais sofrem com a brutal violência da polícia. Ainda assim, até mesmo setores da classe média alta tem sido vítima da violência policial dos últimos dias, como foi o caso do publicitário Ricardo Aquino, que foi morto com dois tiros à queima roupa pela polícia paulista. 
Se tais números são assustadores e causam indignação a qualquer pessoa que defenda as liberdades democráticas e os princípios mais elementares dos direitos humanos, mais escandaloso ainda é o fato de que ainda hoje há 73 estudantes e trabalhadores processados por lutar contra a presença dessa instituição repressiva dentro do campus. Inclusive dirigentes sindicais, como a diretora do SINTUSP e dirigente da LER-QI Diana Assunção, estão sofrendo ameaças de demissão através de um obscuro e parcial processo administrativo cuja principal denúncia é baseada em um Decreto que foi redigido e outorgado em pleno regime militar.

Os recentes fatos que expõe a violência e corrupção da polícia militar do Estado de São Paulo mostram como a luta dos estudantes da USP para acabar com o convênio da universidade com a polícia era correta e necessária. Já a reitoria da USP, ao contrário, deseja que esta polícia, com a extensa lista de crimes que expomos a cima, esteja diariamente no campus para intimidar o movimento estudantil que luta por uma universidade aberta, democrática e para todos. Mais do que nunca, tendo em vista que os processos administrativos devem se encerrar em um curto prazo de tempo, é preciso redobrar a força na campanha contra a repressão aos estudantes e funcionários da USP, exigindo o fim imediato dos processos, e denunciar em alto e bom som os burocratas acadêmicos que querem a polícia militar assassina dentro da USP. 




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