segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dezenas de trabalhadores se reúnem com a LER-QI no Sintusp para discutir o "Programa de Transição"





No último sábado dia 15 de setembro, dezenas de trabalhadores da USP, terceirizados da BKM, trabalhadores dos Correios, bancários, metroviários, professores, trabalhadores da indústria e do comércio, além de jovens secundaristas e universitários, se reuniram com a LER-QI no Sindicato dos Trabalhadores da USP em uma das atividades que compõe o ciclo "Porque Trotsky?" que temos impulsionado em todos os países onde construímos a Fração Trotskista- Quarta Internacional.

Claudionor Brandão, demitido político do Sintusp e militante da LER-QI, abriu a atividade retomando os estudos feitos no ciclo do Manifesto do Partido Comunista durante todo o 1º semestre deste ano. Dessa forma, retomou conceitos fundamentais do marxismo: a definição de classes sociais; Burgueses e proletários, mais valia, exploração, teoria da revolução. Destacou como a teoria marxista constituiu-se como teorização de Marx e Engels sobre as lutas e necessidades da classe trabalhadora.

A falência do sistema feudal, o desenvolvimento do mercado mundial e as revoluções burguesas, como a inglesa e a francesa, marcaram um novo período da história da humanidade. Durantes estas revoluções a burguesia, com apoio direto das demais classes dominadas avançaram contra a ordem feudalista. A partir de 1848, da chamada Primavera dos Povos, o proletariado emerge como sujeito político independente lutando contra todas as classes dominantes. A Comuna de Paris é o grande marco da luta independente do proletariado em luta pelas suas demandas históricas. A partir dessa base comum introduziu a discussão sobre as revoluções no século XX.

Dentre as revoluções do século XX destacou a revolução de 1905 e o surgimento dos sovietes. Explicou que os sovietes eram Conselhos Operários, formas de auto-organização dos trabalhadores e trabalhadoras organizados nos locais de trabalho e nos bairros proletários. Estes constituíam verdadeiros organismos de auto-governo. A partir dos sovietes administrava-se a produção e distribuição de alimentos e mercadorias, mantinham sua própria imprensa, formaram milícias operárias que fazia a segurança nos bairros. Os sovietes constituíam prova viva da capacidade dos trabalhadores e trabalhadoras organizarem a sociedade, a produção e a distribuição sem a burguesia e os patrões. A burguesia prova-se como uma classe parasitária.

Os bolcheviques, comunistas russos, atuavam cotidianamente nos sovietes. Trotsky, já em 1905, aos 25 anos de idade, foi o presidente do soviete de Petrogrado. Em sua obra Balanço e perspectivas analisa o porquê da derrota da revolução de 1905. Todo o processo revolucionário teve como protagonistas os trabalhadores das cidades, para que essa revolução fosse vitoriosa era necessário ter conquistado o apoio dos camponeses. Com a derrota desta revolução Trotsky e os principais dirigentes dos sovietes e dos bolcheviques foram presos e deportados. Isso produziu importante refluxo no movimento operário russo, os militantes revolucionários dedicam-se ao trabalho clandestino.

No entanto, ainda que derrotada, a revolução de 1905 produziu ricas experiências para o proletariado que a protagonizou. Estas experiências seriam retomadas 12 anos depois, na revolução de fevereiro de 1917. Em fevereiro deste ano, no Dia da Mulher, as mulheres trabalhadoras vão às ruas reivindicando pão e que a Rússia saísse da Primeira Guerra Mundial.

A marcha de fevereiro de 1917 avançou, o movimento se massificava e colocava em cheque o governo Tzarista, que não garantia nem o pão e nem a saída da guerra. Em um acordo pelo auto para se auto-preservar, o tzarismo criou um governo provisório com a burguesia, mas isso não satisfaz o animo da classe operária russa. Retoma-se os sovietes. Recriam uma forma de governo paralelo. Estabelece-se a dualidade de poderes, Lenin por meio das Teses de Abril conclama o proletariado a aprofundar sua auto-organização e a tomar o poder.

Em outubro de 1917 a classe operária russa toma o poder e estabelece um governo de trabalhadores e expropria a burguesia, divide as terras distribuindo-as aos camponeses. O partido bolchevique foi o único partido que manteve-se ao lado da classe trabalhadora, defendia que ela deveria ter seu próprio governo, separando-se completamente dos interesses da burguesia e dos latifundiários. Trotsky é incorporado ao comitê central do partido bolchevique. Novamente é eleito presidente do sovietes.

No entanto, apos a tomada do poder, 14 potencias imperialistas invadem a Russia, Trotsky cria o Exército Vermelho, com isso expulsam as tropas inimigas estabilizando a república dos sovietes. O período de guerra civil contra os exércitos invasores foi um período muito duro da revolução, metade da vanguarda combatente morreu no front, a fome disseminara-se. Após a derrota da revolução alemã em 1923, a Rússia revolucionária fica isolada em meio a um mar de países capitalistas.

A isso somou-se a morte de Lenin, que já se preocupava com a burocratização do Estado soviético. Estavam postas condições para a burocratização do processo revolucionário. Trotsky combaterá frontalmente as degenerações do processo revolucionário, analisando a nova realidade e explicando teoricamente as origens da burocratização do primeiro Estado operário da história, aponta com clareza os sucessivos erros da Internacional Comunista, que contribuíram para selar as derrotas do proletariado internacional e que deram lugar à ascensão do nazismo. Trotsky provou-se como o mais importante estrategista da revolução internacional, estratégia plasmada politicamente em combate ao stalinismo, desde a Oposição de Esquerda de 1923 e, por isso, será expulso da Rússia em 1928 e assassinado em 1940 a mando de Stalin.

A partir dos elementos colocados na intervenção de Brandão, Marcelo "Pablito" seguiu discutindo a estratégia para organização dos trabalhadores nos períodos de crise do capitalismo, em uma época marcada pela concentração da riqueza em monopólios, pela disputa cada vez mais acirrada entre países imperialistas que produziram duas guerras mundiais, e com elas dezenas de milhões de mortes, arrastando o proletariado europeu a um nível de sofrimento insuportável e a uma enorme destruição das forças produtivas criadas pela humanidade. Baseou-se nos conceitos centrais do Programa de Transição, destacando que Trotsky escreveu este livro para responder a uma época em que o capitalismo já havia deixado de cumprir qualquer papel progressivo, colocando cada vez mais no centro as questões referentes à tomada do poder político em escala internacional e mundial pela classe trabalhadora como um meio necessário para dar a única saída progressiva à esta crise, a serviço de construir uma nova sociedade sem explorados e exploradores, o que, somente seria possível superando a falta de uma direção revolucionária, ou seja de partidos revolucionários nacionais e de um partido mundial da revolução, a IV Internacional. Destacou que estamos vivendo uma crise histórica do capitalismo, e que esta é comparável a crise de 1929.

Nesse período de crise, no qual o patronato busca descarregar sobre os trabalhadores os custos da crise, fechando fabricas, demitindo trabalhadores e trabalhadoras, alegando falência, o Programa de Transição ganha enorme atualidade, uma vez que aponta para um conjunto de consignas que têm como objetivo fazer uma ponte entre as reivindicações imediatas e parciais dos trabalhadores com a tarefa estratégica da tomada do poder, demonstrando como, de forma alguma são separadas por uma muralha intransponível.

Para enfrentar o desemprego massivo, o rebaixamento dos salários, Trotsky aponta, no Programa de Transição, consignas como o fim do “segredo comercial”, redução da jornada de trabalho sem redução salarial, reajuste imediato dos salários de acordo com o aumento do custo de vida e o controle operário da produção, que, nos servem muitíssimo para armar os trabalhadores e, sobretudo sua vanguarda, com um programa e uma estratégia para que sejam os patrões que paguem pela crise.

Dialogou com diversos setores de trabalhadores ali presentes que colocaram exemplos de seus próprios locais de trabalho e de suas vidas a partir do que pudemos debater um pouco sobre os desafios cotidianos e contradições para a organização política independente da classe trabalhadora, que perpassa também os processos de lutas atuais, como a campanha salarial e greve dos trabalhadores dos Correios e Bancários, assim como a recente greve dos trabalhadores do funcionalismo federal que enfrentaram o ataque ao direito de greve imposto pelo governo Dilma. O governo faz empréstimos milionários para salvar banqueiros e empresas privadas, mas nega-se a reajustar os salários dos trabalhadores. Dessa forma, Pablito buscou demonstrar a vigência do Programa de Transição na atualidade para responder aos pequenos problemas no local de trabalho e nas lutas em curso, como de bancários e correios, ligando-os aos grandes problemas da sociedade capitalista

Com o desenvolvimento da crise econômica mundial, os trabalhadores, trabalhadoras e demais setores explorados e oprimidos, precisam se auto-organizar e lutar por uma saída própria, independente dos interesses da burguesia e dos patrões, o que também faz das lições sintetizadas no Programa de Transição um programa para os sindicatos, que, via de regra representam apenas uma parcela da classe trabalhadora, em geral dos setores melhor remunerados e com mais direitos. Por isso, se coloca como tarefa fundamental avançar no classismo, para que os sindicatos representem os interesses do conjunto do proletariado, lutar no interior dos sindicatos por um programa e uma estratégia revolucionária que permita unificar as fileiras de nossa classe, superando a divisão entre efetivos, temporários, terceirizados e desempregados e, combater a burocracia sindical que age como um representante dos interesses da burguesia no movimento operário.

A burocracia sindical é constituída por sindicalistas que dividem e obstruem a auto-organização, impedindo assim que os trabalhadores e trabalhadoras expressem suas demandas, colocando-os, juntamente com seus sindicatos, a reboque dos interesses da burguesia e do patronato, ao invés de ser uma base de apoio ara auto-organização dos trabalhadores para barrarem os ataques a seu trabalho e seus direitos.

Contando com as intervenções dos trabalhadores e trabalhadoras presentes, a partir deste importante espaço, discutiram-se as relações de trabalho, a exploração e suas condições de vida, bem como as atuais dificuldades para construção da unidade da classe. De conjunto, durante a atividade, conseguimos discutir os principais problemas e demandas dos trabalhadores e trabalhadoras. Também ficou expressa a necessidade de auto-organização e da unidade das diferentes categorias que sofrem diretamente os impactos da exploração e opressão que são aprofundados nos períodos de crise econômica. No fechamento da atividade todos foram convidados a participar dos grupos de estudos que impulsionaremos a partir da LER-QI nos locais de trabalho sobre o Programa de Transição e do Ciclo “Por que Trotsky?” que impulsionaremos nos próximos meses na USP, Unesp e Unicamp.

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