sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ELEIÇÕES NA VENEZUELA E UMA POSIÇÃO OPERÁRIA E INDEPENDENTE

No próximo dia 07/10 ocorrerá as eleições presidenciais na Venezuela. Dessa vez, a oposição golpista de Direita, representante de importantes setores patronais do país e patrocinada diretamente pelo imperialismo norte americano, participará do pleito e apresentará um candidato unificado. Por outro lado, Chávez, com seus programas assistenciais e sua retórica nacionalista, segue com um importante apoio popular. O representante do projeto bolivariano utiliza o receio das massas com volta da oposição de direita para seguir no poder implementando seu projeto nacional desenvolvimentista que envolve uma política assistencialista com as massas, a partir do alto preço do petróleo, e repressão e perseguição às organizações operárias independentes, proporcionando altos lucros para a burguesia nacional não atrelada à oposição. 
No Brasil, uma parte considerável da esquerda vem fazendo uma eufórica campanha pelo projeto de Chávez. O apoio que Chávez recebe do PT e PC do B (e consequentemente da CUT e CTB), que aqui no Brasil governam para os grandes empresários, não causam nenhum estranhamento. Todavia, é lamentável o papel de organizações como a Consulta Popular (parte da direção nacional do MST) e algumas correntes do PSOL (como a APS, MES entre outras) que exaltam o governo Chávez sem sequer apontar as recentes repressões do governo chavista contra mobilizações operários.
O Blog Adeus ao Capital, comprometido com um projeto combativo e de independência de classe, publica entrevista realizada com Angel Arias, dirigente do grupo trotskista LTS (liga dos trabalhadores pelo socialismo), onde expõe sinteticamente a situação política da Venezuela e defende uma política independente das variantes burguesas.


No dia 07/10 se realizarão as eleições presidenciais na Venezuela. Entrevistamos Angel Arias, dirigente da Liga dos Trabalhadores pelo Socialisno (LTS), organização irmã da LER-QI na Venezuela.



Em que contexto se dão essas eleições, depois de mais de uma década de Governo Chávez?
Para começar é preciso remarcar que no país não houve nenhuma “revolução” como declara  Chávez, muito menos uma transição para algum tipo de “socialismo”. Depois da chamada democracia representativa de 1958 a 1998 se seguiu a “democracia participativa e protagonista” assim batizada pelo chavismo, mas que na realidade não deixou de ser a mesma forma de representação política onde o poder é exercido por outros em nome do povo, inclusive reforçando os poderes discricionários de uma só pessoa na figura presidencial, combinando isto com espaços de participação limitada e subordinada ao poder institucional, que chamam de “poder popular”.
Qual o caráter dos candidatos que se apresentam?
Capriles Radonski, da oposição de direita ao governo e representante da MUD (mesa de unidade democrática), representa a fração burguesa que está na oposição desde 1999, depois de ser governo durante 40 anos. A suposta “solução” que propõem é dar mais liberdade de ação ao capital e mais subordinação ao imperialismo yanqui. É a velha receita neoliberal que busca maximizar os lucros da patronal a partir de otimizar a exploração. De outro lado, milhões entre a classe trabalhadora e o povo pobre ainda confiam em Chávez que, favorecido pelos altos preços do petróleo, tem destinado parte dos recursos públicos para buscar amenizar parcialmente a situação de miséria e pobreza. Entretanto, o projeto de Chávez mantém o sistema de exploração dos trabalhadores, busca estabilizar a sociedade burguesa, legitimar e fortalecer o Estado capitalista e suas forças armadas e, como temos observado, Chávez tem se mostrado um presidente hostil às organizações e lutas combativas dos trabalhadores e do povo quando saem de seu controle.

Por que é importante apoiar uma candidatura operária independente?
Nesse cenário é importante uma candidatura operária independente por que é fundamental que os trabalhadores e trabalhadoras possam ir se desfazendo das ilusões nos candidatos dos partidos patronais. E assim como os trabalhadores enfrentamos os patrões nas fábricas e lugares de trabalho nas lutas cotidianas também temos que enfrentá-los no terreno eleitoral. Ou seja, que apenas votemos em nossos companheiros de classe, que votemos em candidatos dos trabalhadores sem compromissos patronais. Avançar nessa posição permitiria desenvolver a consciência nos marcos de uma perspectiva independente. Desde a LTS sempre defendemos a necessidade de levantar candidaturas operárias independentes nas eleições, que surjam das fileiras dos trabalhadores, de suas próprias organizações sindicais e políticas, levantando uma política de independência de classe, para dar a batalha contra o governo e a oposição burguesa.
Como surgiu a candidatura operário de Orlando Chirino?
Os companheiros do Partido Socialismo e Liberdade (parte da UIT-CI e grupo irmão da corrente CST no Brasil) lançaram a candidatura de Orlando Chirino, histórico dirigente sindical e da esquerda  do país. Temos importantes diferenças políticas com o PSL e o próprio companheiro Chirino, registradas em múltiplos artigos de debates. Sua prática política militante, para além das declarações gerais que possam sair no papel, tem os levado permanentemente a colocar em questão a independência de classe. No terreno eleitoral durante longos anos, desgraçadamente, foram entusiastas do voto em Chávez, negando se a levantar uma candidatura operária independente. Depois de seu afastamento do governo, quando este acentuava seu caráter autoritário, com o argumento de defender os direitos dos trabalhadores – certamente violados pelo governo- seguiram uma linha de alianças políticas com burocratas sindicais orgânicos de partidos da oposição burguesa, onde conviveram sem dar nenhuma batalha pelas suas ideias e seu programa.

O que ajuda o voto crítico a Chirino na atual situação política?
É preciso destacar que o PSL jamais fez um chamado a se constituir uma frente política com diversas organizações operárias e da esquerda revolucionária, fortalecendo uma política mesquinha e de aparato onde só se apresentam os que têm legalidade eleitoral. Apesar de tudo isso, nos parece relevante a apresentação de um candidato operário as próximas eleições presidenciais. É por tudo isso que defendemos o voto crítico na candidatura operária de Orlando Chirino, sem que isso signifique um apoio a sua trajetória e prática política. Chamamos a votar criticamente por que é muito importante que os trabalhadores deem passos, mesmo que iniciais, na sua independência política como classe explorada, o que pode ser expressado na ideia chave de que os trabalhadores não votam em patrões, de que se concorremos nas eleições burguesas deve ser para respaldar os companheiros de nosso classe, um voto de classe, do tipo “trabalhador vota em trabalhador”. Esse elemento de independência de classe é o que justifica nosso voto crítico a candidatura operária de Chirino, como expressamos em nossa declaração. Se trataria de um primeiro passo que permitiria avançar em maiores níveis de independência de classe, como seria a formação de um partido dos próprios trabalhadores, na perspectiva da luta por um partido operário revolucionário e internacionalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário