terça-feira, 2 de outubro de 2012

CICLO DE ESTUDOS POR QUÊ TROTSKY?





1940-2012: A 72 ANOS DO ASSASSINATO DE LEON TROTSKY

Minha vida*: traços biográficos de uma vida revolucionária

Por Hernán Aragón, PTS

As classes dominantes tentam fazer com que nós, os explorados, não tenhamos história. Sua intenção é que os séculos de luta da classe operária contra o capitalismo, o desenvolvimento do marxismo revolucionário e os grandes homens e mulheres que encarnaram aquelas lutas, fiquem no esquecimento. Querem que sempre comecemos de novo. Uma juventude revolucionária deve apropriar-se do melhor de nosso passado. Abraçar e compreender nossa tradição e nossa história, não como letra morta mas como um universo de experiências, de lições políticas e de vida. Leon Trotski é um exemplo central da tradição que deve ser recuperada, defendida e aprofundada por uma juventude revolucionária que se proponha a avançar na luta contra os exploradores, em plena crise mundial. Neste novo aniversário do seu assassinato, a juventude do PTS se propõe a organizar diferentes atividades de homenagem. Procuraremos contribuir para que as novas gerações tomem seu legado. Trotski dizia: há que “inspirar à juventude confiança em suas próprias forças e em seu futuro. Apenas o entusiasmo fresco e o espírito beligerante da juventude podem assegurar os primeiros triunfos da luta e apenas estes devolverão ao caminho revolucionário os melhores elementos da velha geração”.

Coberto por esteiras, palha e feno, ele conseguiu chegar até uma estação ferroviária. Ali o esperava uma bolsa que uns amigos lhe haviam preparado para completar a fuga. Nela não havia nada de luxuoso: alguma roupa, uma gravata e um volume de Homero. O jovem levava no bolso um passaporte falso que ele mesmo tinha fabricado com um nome escolhido ao acaso estampado nele.

35 anos mais tarde, em seu último exílio em Coyoacan, Lev Davidovich Bronstein registrava em atas que aquele nome, escrito ao acaso em 1902, seria aquele que genuinamente o acompanharia pelo resto da sua vida.

Hoje o nome de Trotski continua sendo o estigma maldito da revolução proletária, uma ameaça da qual a burguesia não pôde se desfazer.

O “melhor bolchevique” – como o definira Lenin – descobria três anos após o Outubro vermelho, que o dia do seu nascimento coincidia com a data da revolução. Riu-se deste dado do acaso, deixando sua análise para os místicos. Não se podia esperar outra coisa de quem já registrara em seu testamento, no mesmo ano do seu assassinato, que morreria sendo um revolucionário proletário, um marxista, um materialista dialético e, em consequência, um ateu irreconciliável.

Já desde bem cedo, o rapaz de Odessa compreendeu que os acontecimentos de sua vida pessoal estariam inseridos na trama dos fatos históricos e que seria quase impossível arrancá-los dela. Quão chocante soa este pensamento para o individualismo que a burguesia professa e ao mesmo tempo quão profundamente o almejamos.

“Eu olhava firmemente – escreveu ele sobre seus primeiros anos na escola secundária – com total confiança e curiosidade a todos aqueles colegas e pessoas com quem me encontrava. Mas de repente, um rapaz alto e magro, de uns treze anos – que deveria estar provavelmente vindo de uma fábrica, já que levava nas mãos um pedaço de chapa metálica – se deteve diante do meu uniforme resplandecente, balançou a cabeça, tossiu ruidosamente e lançou uma boa cusparada sobre minha blusa nova; olhou para mim com desprezo e sem dizer uma palavra, seguiu seu caminho.

O que o impulsionava a agir assim? Hoje está claro para mim: um garoto carente de tudo, com camisa maltrapilha, os pés mal cobertos por faixas, obrigado a fazer os sujos encargos dos seus patrões enquanto que os filhos dos senhores resplandeciam com seus belos uniformes escolares ... O garoto tinha descarregado ali, sobre mim, seu sentimento de protesto social”.

Este “protesto social” seria a tinta inapagável que guiaria o compromisso de uma vida dedicada a acabar com as injustiças que a sociedade de classes engendra. Trotski se sentia especialmente incomodado pelos pseudo-revolucionários, as pessoas dedicadas a cultivar seu prestígio pessoal, os diletantes, os espíritos cansados. Apenas exigia de parte do revolucionário a entrega do seu tempo, suas forças e meios, como ele tinha feito já aos 17 anos ao se misturar aos bairros operários de Nicolaiev. Nesses primeiros anos de militância na “Liga operária do Sul da Rússia” forjou seu oficio de revolucionário e escritor, passando semanas inteiras com as costas curvadas desenhando com o maior dos cuidados as letras em que se imprimiram panfletos e artigos para os operários. O movimento foi crescendo e Trotski foi preso e deportado para a Sibéria aos 19 anos, onde conheceu Alexandra Lvovna com quem o trabalho comum pela causa o uniu intimamente.

Na prisão abraçou definitivamente a teoria marxista, à qual se dedicaria com total aplicação e cuidadoso estudo. “Minha atividade consciente e ativa foi uma constante luta por ideias determinadas” dirá. O exilado regressou à Rússia em 1905 e foi eleito presidente do soviete de Petrogrado. Em outubro desse ano, as massas que o soviete tinham levantado concentram-se furiosas diante da Universidade de São Petersburgo. O jovem, que está ao ponto de completar 25 anos, sobe no alto de um balcão para dirigir-lhes a palavra. Mirando firmemente à multidão, toma o manifesto do tzar e o rasga, lançando os pedaços ao vento. Trotski reafirmava que não pode haver reconciliação com os inimigos do povo.

Quando a revolução parecia definitivamente liquidada, escreveu que “entre as nuvens negras da reação que nos cercam, já se atiça o resplendor triunfante de um novo Outubro”.

Sua previsão não falhou. Mas aquelas palavras indicavam sobretudo que sua confiança na classe operária e no futuro socialista da humanidade se tornaria mais potente no futuro, inclusive sob a longa noite do stalinismo.

Neste período Trotski foi a expressão de um movimento de resistência operária e popular que mesmo nos campos de concentração continuou batalhando contra a burocracia soviética. Esta é nossa tradição e nosso orgulho. Sem a luta que o fundador da IV Internacional levou adiante, hoje apenas restaria como socialismo os crimes de Stálin.

Trotski escreveu uma vez que todo verdadeiro orador tem momentos de inspiração nos quais de sua boca brota algo mais poderoso que as palavras que saem em momentos normais. Como criador do Exército Vermelho, que também foi o orador da revolução, essas forças poderosas continuariam vibrando até seu último suspiro. E o fizeram com a mesma paixão e alegria com a qual o jovem de Nicolaiev recebia os informes das fábricas contando como “as letras cor violeta tinham sido avidamente lidas, transmitidas e ardentemente discutidas pelos operários”.

Na época tumultuada que nos tocará viver nós, os trabalhadores e a juventude, estamos convocados a tomar essa bandeira limpa que o grande revolucionário nos legou para nela encontrar a inspiração que nos ajude a preparar o futuro.

Ao longo de 45 capítulos, neste livro, Trotski relata sua infância, seu juvenil início na vida revolucionária, prisões, fugas e exílios, sua participação na Revolução de 1905, suas conclusões e inovações teóricas, suas relações com a II Internacional, sua ruptura com ela na I Guerra Mundial, seu ingresso no partido de Lenin antes de co-dirigir com ele a conquista do poder em Outubro de 1917, seu papel central na guerra civil, em Brest-Litovsk e, especialmente na oposição, desde seu início, ao processo de burocratização da URSS.

Sendo uma de suas obras mais conhecidas, esta edição em castelhano, além de incorporar outros artigos autobiográficos é uma nova versão, revisada e corrigida, segundo a edição francesa abreviada publicada por A.Rosmer em 1953, que agregou um Apêndice de sua autoria, que percorre os últimos anos de exílio de Trotski na Turquia, França, Noruega para finalizar no México, onde será assassinado por um facínora a mando de Stálin. Sua vida concentra acontecimentos revolucionários e contrarrevolucionários de tal magnitude – que cada um deles pode ser estudado e aprofundado em separado. Sua práxis revolucionária é o que mais se destaca ao longo de sua vida consciente, para além das grandes tragédias pessoais que desabaram sobre ele. Apresentamos, por isso, uma das maiores autobiografias do século XX.

* Esta resenha, escrita por um combatente da juventude revolucionária argentina, examina o livro Minha vida, de Leon Trotski, publicado este mês pelo C.E.I.P.-León Trotsky, Buenos Aires.

Traduzido por Gilson Dantas

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