quinta-feira, 21 de março de 2013

APONTAMENTOS SOBRE AS “GLOBAL PLAYERS”, IMPERIALISMO E A REVOLUÇÃO PERMANENTE.

É lugar comum entre os intelectuais do espectro petista a definição de que, sobretudo com o Governo Lula e agora sob a gestão Dilma, o Brasil, através do desenvolvimento de grandes empresas nacionais – chamadas “global players” – cumpriria um outro papel na divisão internacional do trabalho entre os países. Na concepção de tais analistas, que em alguma medida é acompanhada até mesmo por setores da oposição de direita, as grandes empresas brasileiras (estatais ou privadas) disputam o mercado internacional em pé de igualdade com as velhas e novas grandes multinacionais imperialistas. O papel de liderança mundial nos seus respectivos negócios faz com que a Petrobrás, Embraer, JBS-Friboi, Andrade Gutierrez entre outras empresas sejam exemplos desse maior protagonismo do capital nacional no mercado mundial.

O Governo petista aproveita-se do “fenômeno” das “global players”, assim como do papel nefasto que cumpriu ao ocupar e militarizar o Haiti fazendo o trabalho sujo para o imperialismo e na liderança na América do Sul, para obter vantagens políticas nos principais organismos de relações internacionais. É o que explica a insistência, até aqui sem qualquer efeito, em se tornar membro pleno (com poder de veto) do Conselho de Segurança da ONU, grupo seleto de potências formado por EUA, Rússia, China, Reino Unido e França.
Também vale destacar que, lamentavelmente, parte da própria esquerda antigovernista, numa avaliação superficial e apressada desse processo, acabou por se seduzir pelo canto do “Brasil Potência”. Não por outro motivo, inúmeros grupos e partidos desenvolveram “teorias” de que o Brasil havia se tornado um país imperialista ou criaram uma nova categoria, avessa a própria concepção leninista do imperialismo, o chamado “sub-imperialismo”. Longe de ser apenas uma discussão acadêmica ou teórica sem correspondência com a realidade, dizer que o Brasil não seja mais uma semi-colônia (países com independência política formal, mas subjugado economicamente), além de mudanças na avaliação geopolítica, implica em profundas alterações, no conjunto de tarefas e programas a qual os marxistas devem levantar para a revolução no Brasil.

Nessa brevíssima postagem, queremos, a partir de dois exemplos, mostrar que, ao contrário do que preconiza os intelectuais petistas e as linhas editoriais da imprensa burguesa, permanece a profunda dependência econômica de nosso país ao capital imperialista, sobretudo o norte-americano. Não menosprezamos as transformações ocorridas na econômica brasileira, assim como o papel de liderança que algumas empresas nacionais experimentaram nos últimos anos, todavia é preciso destacar os limites desse processo indo além das aparências superficiais e questionar o clima “festivo” propagado pelos porta-vozes do governo.
Em primeiro lugar, destacamos a importante participação do capital imperialista estrangeiro nas transnacionais brasileiras. A estratégia do governo para o desenvolvimentos dessas “global players” é combinar vultuosos incentivos fiscais e de créditos (via BNDES) por parte do governo e permitir a entrada de capital estrangeiro em parcelas “menores’ no capital das empresas. O que se percebe é que, se por um lado, houve uma ofensiva das empresas nacionais, por outro, estas empresas ainda dependem de investimentos estrangeiros (imperialistas) para se arriscarem ao mercado internacional. Para tal, a elevada taxa de juros, durante os governo FHC e Lula, contribuíram para atração de capitais imperialistas especulativos:

“O poder de atração do capital imperialista por parte do Brasil se deu em função de uma particular combinação de fatores, dentre os quais, para além de seus recursos naturais extremamente valorizados, cumpriram um papel central as taxas de juros reais mais altas do mundo. Esta conjunção de elementos levou a que o fluxo de dólares para o país pressionasse a uma hipervalorização artificial do real em relação ao dólar, aumentando o poder de compra das empresas nacionais no exterior e com isso favorecendo o desenvolvimento do que hoje conhecemos como os “global players” brasileiros.” (MATTOS, Daniel. A falácia do sub-imperialismo brasileiro. Revista estratégia internacional nº 25. 2009)
 Outra demonstração, mais recente, dos limites desse processo veio à tona com a notícia da compra de uma refinaria pela Petrobrás, em Pasadena, no estado norte-americano do Texas. A empresa estatal, talvez a principal “menina dos olhos” do governo petista e que em 2013 enfrenta sérios prejuízos, adquiriu a refinaria de um grupo belga (que a havia comprado pelo valor de mercado de 46 milhões de dólares) durante o governo Lula pela “bagatela” de 1,18 bilhões de dólares (!). Agora, a Petrobrás, que conta com importante parcela de capital estrangeiro na sua composição acionária, pretende vender a refinaria pelo valor de aproximadamente 400 milhões de reais. Um prejuízo de quase 800 milhões de dólares para os cofres brasileiros e uma grande ajuda aos capitais imperialistas belgas e norte americanos que realizaram a venda. Desse modo, o capital privado nacional e o Estado brasileiro colaboram, com dinheiro do trabalhador brasileiro, para aliviar a crise econômica pela qual passa as principais economias imperialistas do mundo.
Esses dois exemplos, um sobre como foram formados os “global players” brasileiros e outro sobre os limites desses, reforçam a caracterização de que o Brasil ainda é um país semi- colonial e dependente do capital imperialista. As atuações frente as crises políticas na América latina, a maior presença no continente africano e a intervenção militar no Haiti são expressões de uma potência regional que cumpre o “trabalho sujo” para o imperialismo. A fraca e tímida condenação ao recente golpe cívico-militar no Paraguai contra um de seus aliados (Fernando Lugo) evidencia que também na política externa o Brasil, em que pese a retórica “Sul-Sul” do governo, está em sintonia com as principais orientações do imperialismo norte-americano.
Caracterizar o Brasil como semi-colônia significa dizer que em nosso país a burguesia nacional, com seus inúmeros laços com o imperialismo, foi e segue sendo incapaz de realizar as históricas tarefas democráticas que ainda hoje seguem pendentes em nosso país. Nesse sentido, na contra mão do que propugna a esquerda “democrática e popular”, como o MST e a Consulta (que ainda seguem na sua procura utópica por uma burguesia nacional progressista), o proletariado brasileiro, hegemonizando os camponeses, pobres urbanos e a classe média empobrecida, está historicamente convocado a se organizar de maneira independente da burguesia nacional e estrangeira e, a partir da construção de uma República Operária e Socialista, realizar as tarefas democráticas não resolvidas, como a reforma agrária e urbana, demarcação de terras quilombolas e indígenas e educação de qualidade etc como explica o revolucionário e teórico russo Leon Trotsky em suas teses da revolução permanente:

“Para os países de desenvolvimento burguês retardatário e, em particular, para os países coloniais e semicoloniais, a teoria da revolução permanente significa que a solução verdadeira e completa de suas tarefas democráticas e nacional-libertadoras só é concebível por meio da ditadura do proletariado, que, assume a direção da nação oprimida e, antes de tudo, de suas massas camponesas.

Desse modo, a luta pela construção de um partido revolucionário com profunda organicidade no seio da classe trabalhadora, sobretudo no seu setor mais precarizado, continua um problema de primeira ordem. Esse partido, que deverá caminhar na contramão de organizações políticas midiáticas, superestruturais e reformistas, como vemos o caminho escolhido pelo PSOL, deve ser parte da luta pela reconstrução da IV internacional, o partido mundial da revolução social.  

terça-feira, 12 de março de 2013

TODOS A MARCHA EM BRASÍLIA NO DIA 24 DE ABRIL



21/02/2013

No dia 24 de abril, a CSP-Conlutas e diversas organizações – A CUT Pode Mais, CNTA, Cobap, Condsef, CPERS e entidades nacionais e sindicatos locais – estão organizando uma grande marcha em Brasília, uma Jornada de Lutas.

O objetivo é defender os direitos sociais e trabalhistas e denunciar a política econômica do governo federal que resulta nesses ataques.

 Uma plataforma política foi aprovada pelas entidades que participam desta jornada: - Contra o ACE (Acordo Coletivo Especial) e a precarização no trabalho; 

- Fim do fator previdenciário / Anulação da reforma da previdência de 2003 / Defesa da aposentadoria e da previdência pública; 

- Reforma agrária já / Respeito aos direitos dos assalariados rurais / Apoio à luta dos trabalhadores do campo contra o latifúndio e o agronegócio; 

- Em defesa do direito à moradia digna / Chega de violência contra pobres e negros; 

- Em defesa dos servidores (as) públicos (as); - Aumento geral dos salários; - Adoção imediata da convenção 158 da OIT / Em defesa do emprego / Redução da jornada e trabalho, sem redução salarial; 

- Em defesa da educação e da saúde públicas; - Respeito aos povos indígenas e quilombolas; - Contra as privatizações / Defesa do patrimônio e dos recursos naturais do Brasil; - Suspensão do pagamento da dívida externa e interna aos grandes especuladores; 

- Contra a criminalização das lutas e dos movimentos sociais; - Contra o novo código florestal / Em defesa do meio ambiente; - Contra toda forma de discriminação e opressão. 


Os materiais de divulgação para a marcha já estão disponíveis para baixar. Foi feito um cartaz e um manifesto com a plataforma de luta da jornada assinado por diversas entidades. É possível baixá-los, clicando abaixo. É importante que as entidades, em cada estado, busquem integrar os diversos setores dos movimentos popular, sindical e estudantil. Promovam debates, seminários e reuniões sobre a importância da marcha.

domingo, 10 de março de 2013

SEMANA DO CALOURO NA UNESP FRANCA REÚNE CENTENAS DE ESTUDANTES PARA DEBATER A CRISE ECONÔMICA, SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO E A CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Na semana passada foi realizada a “calourada” da UNESP Franca. Em quatro dias de debates centenas de estudantes ingressantes e veteranos acompanharam as mesas sobre crise econômica, cotas raciais, acesso e permanência estudantil e criminalização dos movimentos sociais. Durante toda a semana o anfiteatro permaneceu lotado com muitos calouros acompanhando os debates com muita atenção e também participando das palestras através de intervenções, perguntas e colaborações ao debate.

Já na Segunda (04/03) mais de 300 estudantes acompanharam o debate sobre a crise econômica e seus reflexos na sociedade. Simone Ishibashi, socióloga e membro do conselho editorial da revista Estratégia Internacional, compôs a mesa com os professores José Fernando (serviço social) e Elizabeth Sanches (relações internacionais). Os professores destacaram o potencial da crise para gerar mudanças de valores e também como os setores financistas são justamente os que mais lucram com essa. Simone explicou que “a crise econômica internacional, com seus desdobramentos sociais e políticos, sobretudo, com as mobilizações da primavera árabe e os duros combates levados à cabo pela classe operária e a juventude européia, com destaque para a Grécia e Espanha, mostram a falácia dos concepções teóricos reacionárias que advogavam a idéia do fim da história e das lutas sociais e a vitória histórica do capitalismo.” A socióloga, que também é dirigente da Liga Estratégia Internacional (LER-QI), encerrou sua intervenção mostrando que o “Brasil não está imune aos efeitos da crise e que as áreas sociais, sobretudo a educação, serão atacadas pelos governos e empresários para garantirem seus lucros.” E concluiu convidando “os estudantes para se organizarem e construírem um movimento estudantil combativo e aliado aos trabalhadores para frear os ataques dos grandes capitalistas”.

Na terça e na Quarta, também com o anfiteatro lotado, os estudantes acompanharam o debate sobre cotas e permanência estudantil, respectivamente. Os debates auxiliaram os estudantes ingressantes a refletir sobre a importância de questionar as formas de acesso à universidade e o caráter elitista e racista desta. O destaque ficou com a intervenção da companheira Maira, estudante de serviço social, que relatou a luta pela moradia e pela permanência estudantil na Unesp Franca e denunciou a completa omissão da direção da faculdade e da reitoria da universidade para garantir condições de estudo para as pessoas portadoras de necessidades especiais.


Por fim, na Quinta Feira (07/03) foi realizado o debate sobre a criminalização dos movimentos sociais. Essa foi uma das mesas mais aguardadas, pois na UNESP Franca, como exemplo da criminalização das lutas sociais, 31 estudantes estão sofrendo com repressão e perseguição da direção depois que realizaram um ato com de 250 pessoas para repudiar a presença de figuras (D. Bertrand e Sepúlveda) homofóbicas, racistas e que fazem a defesa pública de milícias para assassinar sem terras.  

A mesa foi composta pela professora e feminista Lola Aronovich, por Anselmo, estudioso e militante LGBT e por Domenico, diretor do Sindicato dos trabalhadores da USP (SINTUSP). Também compuseram a mesa dois companheiros representando o grupo dos 31 estudantes sindicados e perseguidos pela direção da UNESP Franca.
Lola relatou a luta do movimento feminista e a repressão e os ataques dos setores conservadores aos direitos das mulheres. Anselmo focou numa intervenção para a formação em relação a temática LGBT, desconstruindo valores e preconceitos e apresentando dados da gritante violência contra os homossexuais. Domenico relatou a luta dos estudantes, funcionários e professores da USP contra a repressão do reitor João Grandino Rodas. Explicou que o governo do Estado de São Paulo, por via do Ministério Público, denunciou 72 estudantes por crime de manuseio de explosivos, depredação e formação de quadrilha. Além disso, denunciou que os membros do SINTUSP são vitimas de inúmeros processos administrativos e criminais por lutarem em defesa da universidade pública. 

Para Domenico “a situação internacional, com crises e convulsões sociais em outros países, coloca a necessidade da burguesia e do governo brasileiro se preparar e lançar uma ofensiva contra os setores e movimentos que resistem aos ataques econômicos e sociais. Os assassinatos de lideranças do MST, o uso de militares contra os operários em greve nas obras do PAC e dos estádios para a Copa e a violência militar contra o movimento estudantil, como na USP e recentemente na UFMT, mostram a necessidade de organizar uma grande Campanha nacional contra a repressão aos lutadores e contra a criminalização dos movimentos sociais.” Ativistas que acompanhavam o debate no plenário lembraram a repressão policial sistemática que sofrem a população pobre e negra das periferias brasileiras. Os dados oficiais de mortes causadas pela polícia brasileira mostram que há um verdadeiro genocídio em curso contra os pobres e negros do Brasil.
A semana do calouro em Franca foi, sem dúvidas, um importante espaço de discussão, formação teórico/política e organização das lutas do movimento estudantil. Desse modo, os estudantes de Franca dão um importante passo para reorganizar um movimento estudantil combativo, aliado aos trabalhadores da cidade e que terá força não só para barrar a perseguição e repressão da direção da faculdade, mas também terá força para lutar por uma universidade realmente pública, gratuita e a serviço das necessidades dos trabalhadores e do povo pobre.      



domingo, 3 de março de 2013

Eflúvios reacionários tomam conta da UNESP. Contra as Sindicâncias na UNESP-Franca!

Artigo de um companheiro e colaborador do Blog Adeus ao Capital, escrito no final do ano passado, sobre a vinda do "príncipe" herdeiro à Unesp Franca e a repressão da Direção local contra os estudantes da Unesp que repudiaram a presença dessa figura reconhecidamente homofóbica, racista e inimiga da reforma agrária. No momento, 31 estudantes, alguns em vias de alcançarem sua formatura, seguem sindicados pela Direção da UNESP Franca sob a ameaça de suspensão e expulsão. O artigo abaixo mostra o que está por trás dessa perseguição aos estudantes.

Eflúvios reacionários tomam conta da UNESP. Contra as Sindicâncias na UNESP-Franca!  

por André Pavel, professor de História da Rede Pública



Nos momentos de crise social e de avanço da barbárie não se levanta apenas a burguesia com seus planos de ajuda e isentivos governamentais para que o capitalismo não entre em bancarrota, mas levantam-se também a pequena burguesia e os setores mais reacionários da sociedade. A pequena burguesia contrapõe-se em certa medida ao grande capital, na proporção em que este ameaça seus negócios, sem contudo deixar de valer-se da exploração, mas existe uma outra parcela em frangalhos que se revela. Existe toda uma parcela que está contra até mesmo os menores ganhos da sociedade capitalista, uma parcela tacanha não só em seu modo de vida, mas também pelo seu pensamento retrógrado e atrasado. 


Eles escandalizam-se, não pelas greves e luta em si do proletariado, mas pela audácia dos trabalhadores somente pensarem em revindicações, estejam elas na lei ou não; escandalizam-se pelo simples fato de existir um governo burguês que deixa migalhas ao pobres, para eles é necessário que os pobres curvem-se ao “Rei”, que sirvam, com seus corpos dóceis, aos “valores mais elevados” da família, da propriedade privada e de Deus. Esses senhores são contra o neoliberalismo, mas o são por um sentimento revanchista advindo do fim da sociedade medieval! Para eles nada melhor do que uma sociedade com uma elite privilegiada, mas não pelo capital e sim pelo nascimento, não pelas posses, mas sim pelo prestigio.
Algo tem mais prestigio do que o sangue real? O que é mais nobre na terra do que um príncipe? Saberíamos a resposta de um súdito do século XVI. Mas há ainda hoje quem entenda que é totalmente legitimo não só a submissão a fala de um dito membro real, mas o próprio discurso que defende o privilégio, a desigualdade e o autoritarismo.


Mas será  possível existir espaço para um pensamento tão retrogrado na sociedade atual? Parece existir nas Universidades Brasileiras, especialmente na UNESP Franca! No dia 28 de Agosto o grupo CIVI (Curso de Iniciação a Vida Intelectual) apresentaria um evento intitulado A importância da Monarquia na Formação do Brasi , que teria como convidados “ilustres” Dom Bertrand de Orleans Bragança (chamado de príncipe pelos componentes do referido grupo) e o jornalista Sepúlveda (Membro da TFP)  para falarem sobre a formação do Brasil.
Os moralistas e demagogos, para divulgarem  seus pensamentos reacionários, valem-se do argumento da propagação da cultura, do estudo sobre as estruturas culturais, mas na verdade querem vender uma visão de mundo, querem divulgar e difundir a religião e um estado dominante e sua hierarquia. Em realidade querem defender o racismo,  dizendo que vivemos uma democracia racial; querem defender a violência contra homossexuais, dizendo que homofobia não existe; querem acabar com os mínimos direitos assistencialistas do governo, dizendo que tem que se ensinar a pescar e não dar o peixe. 
Don Bertrand representa tudo de mais atrasado que existe no Brasil que é a aristocracia fundiária, o massacre aos povo indígenas e a perseguição aos movimentos sociais, especialmente dos sem terra; apesar de terem um fetiche pela religião, para além de cultuarem as sociedades de ordem possuem uma ligação fundamental com a realidade brasileira, em sua expressão mais atrasada, tacanha e violenta, ligada a tradições da aristocracia fundiária e a religiosidade fundamentalista. Por isso atuam politicamente na sociedade, mas há aí uma dualidade dum todo unido entre ideologia e a politica. Atuam politicamente, nas universidades cultuando os símbolos do passado, no campo assassinando indígenas e sem-terra, no senado defendem contra o MST e defendem os latifúndios; no ambiente universitário organizando grupos de estudos que legitimam a ideologia cristã dominante e do terrorismo de estado, no campo cercando terras e mantendo o trabalho escravo; na academia tornando-se tecnocratas a serviço do elitismo acadêmico, no campo defendendo a especulação das terras improdutivas e a exclusão social. Os grupos reacionários na universidade defendem aquilo que caracteriza o Brasil como um dos países mais atrasados e desiguais, o latifúndio e a desigualdade social.


Não seria surpresa se qualquer estudante advindo de uma família de operários repudiasse um discurso que diz que não existe nada de errado na universidade, que quem está nela é porque simplesmente merece estar, que somente esses são merecedores e valerem-se de um ensino pago por todos; não seria espanto que qualquer um que se colocasse em favor da igualdade de direito repudiasse um ideologia que se colocasse a favor dos latifundiários que perseguem e se armam contra o direito de indígenas, quilombolas e sem-terra de lutarem contra o latifúndio; não seria de estranharmos que qualquer um que se coloque contra o racismo rejeitasse a ideia simplista e mentirosa de que o fim da escravidão foi obtido simplesmente pela assinatura da princesa Isabel e que vivemos em uma democracia racial no Brasil, que não existe racismo aqui, pois somos um país de iguais. Qualquer um que não tenha a cabeça voltada para trás, que tenha um senso de discernimento entre realidade e fantasia, tomaria partido contra um discurso destes, o discurso de Bertrand. E foi isso que aconteceu no dia 28 Agosto.


Os mais de duzentos estudantes que foram contra a realização do evento do Príncipe, iam contra o racismo, a homofobia e contra, sobretudo, a concentração de terras e o massacre sobre os indígenas, quilombolas e movimentos sociais. A universidade agiu prontamente, escolheu 31 estudantes para sindicar, comprovando de que lado a direção desta unidade está, que interesses defende.
Até o momento desta postagem mais de 20 moções e notas de apoio aos sindicados, ou  contra a sindicância foram enviadas por diversas organizações, entidades, departamentos de curso (inclusive da própria unidade UNESP-Franca) e sindicatos, mostrando como é abrangente o repúdio  a sindicância dos estudantes que se colocaram contra o discurso de Bertrand. 


A direção da UNESP-Franca, prefere deixar falar os “príncipes” do que os trabalhadores; diz ser democrática, mas coloca-se em defesa da democracia para que uma ideologia que defende a opressão, a submissão, o interesse do latifúndio, mas nunca que um trabalhador fique a mesa para discutir sobre a universidade. Defende sobretudo o direito de fala a uma ideologia que prega a antidemocracia, que defende o direito de poucos sobre muitos; quem se coloca  contra esse discurso odioso é perseguido pela direção da instituição. Fernando Fernandes e seu grupo CIVI acusam de antidemocráticos os estudantes que estão contra Bertrand, mas defendem aqueles que se posicionam a favor de poucos falarem, de que poucos tenham direito sobre muitos, de que todos tenham que se curvar ao que o “príncipe” proclama. Querem uma universidade que esteja atrelada ao discurso do atraso, da especulação do latifúndio, contra os movimentos sociais e a favor do extermínio dos negros, indígenas e sem-terra.