domingo, 3 de março de 2013

Eflúvios reacionários tomam conta da UNESP. Contra as Sindicâncias na UNESP-Franca!

Artigo de um companheiro e colaborador do Blog Adeus ao Capital, escrito no final do ano passado, sobre a vinda do "príncipe" herdeiro à Unesp Franca e a repressão da Direção local contra os estudantes da Unesp que repudiaram a presença dessa figura reconhecidamente homofóbica, racista e inimiga da reforma agrária. No momento, 31 estudantes, alguns em vias de alcançarem sua formatura, seguem sindicados pela Direção da UNESP Franca sob a ameaça de suspensão e expulsão. O artigo abaixo mostra o que está por trás dessa perseguição aos estudantes.

Eflúvios reacionários tomam conta da UNESP. Contra as Sindicâncias na UNESP-Franca!  

por André Pavel, professor de História da Rede Pública



Nos momentos de crise social e de avanço da barbárie não se levanta apenas a burguesia com seus planos de ajuda e isentivos governamentais para que o capitalismo não entre em bancarrota, mas levantam-se também a pequena burguesia e os setores mais reacionários da sociedade. A pequena burguesia contrapõe-se em certa medida ao grande capital, na proporção em que este ameaça seus negócios, sem contudo deixar de valer-se da exploração, mas existe uma outra parcela em frangalhos que se revela. Existe toda uma parcela que está contra até mesmo os menores ganhos da sociedade capitalista, uma parcela tacanha não só em seu modo de vida, mas também pelo seu pensamento retrógrado e atrasado. 


Eles escandalizam-se, não pelas greves e luta em si do proletariado, mas pela audácia dos trabalhadores somente pensarem em revindicações, estejam elas na lei ou não; escandalizam-se pelo simples fato de existir um governo burguês que deixa migalhas ao pobres, para eles é necessário que os pobres curvem-se ao “Rei”, que sirvam, com seus corpos dóceis, aos “valores mais elevados” da família, da propriedade privada e de Deus. Esses senhores são contra o neoliberalismo, mas o são por um sentimento revanchista advindo do fim da sociedade medieval! Para eles nada melhor do que uma sociedade com uma elite privilegiada, mas não pelo capital e sim pelo nascimento, não pelas posses, mas sim pelo prestigio.
Algo tem mais prestigio do que o sangue real? O que é mais nobre na terra do que um príncipe? Saberíamos a resposta de um súdito do século XVI. Mas há ainda hoje quem entenda que é totalmente legitimo não só a submissão a fala de um dito membro real, mas o próprio discurso que defende o privilégio, a desigualdade e o autoritarismo.


Mas será  possível existir espaço para um pensamento tão retrogrado na sociedade atual? Parece existir nas Universidades Brasileiras, especialmente na UNESP Franca! No dia 28 de Agosto o grupo CIVI (Curso de Iniciação a Vida Intelectual) apresentaria um evento intitulado A importância da Monarquia na Formação do Brasi , que teria como convidados “ilustres” Dom Bertrand de Orleans Bragança (chamado de príncipe pelos componentes do referido grupo) e o jornalista Sepúlveda (Membro da TFP)  para falarem sobre a formação do Brasil.
Os moralistas e demagogos, para divulgarem  seus pensamentos reacionários, valem-se do argumento da propagação da cultura, do estudo sobre as estruturas culturais, mas na verdade querem vender uma visão de mundo, querem divulgar e difundir a religião e um estado dominante e sua hierarquia. Em realidade querem defender o racismo,  dizendo que vivemos uma democracia racial; querem defender a violência contra homossexuais, dizendo que homofobia não existe; querem acabar com os mínimos direitos assistencialistas do governo, dizendo que tem que se ensinar a pescar e não dar o peixe. 
Don Bertrand representa tudo de mais atrasado que existe no Brasil que é a aristocracia fundiária, o massacre aos povo indígenas e a perseguição aos movimentos sociais, especialmente dos sem terra; apesar de terem um fetiche pela religião, para além de cultuarem as sociedades de ordem possuem uma ligação fundamental com a realidade brasileira, em sua expressão mais atrasada, tacanha e violenta, ligada a tradições da aristocracia fundiária e a religiosidade fundamentalista. Por isso atuam politicamente na sociedade, mas há aí uma dualidade dum todo unido entre ideologia e a politica. Atuam politicamente, nas universidades cultuando os símbolos do passado, no campo assassinando indígenas e sem-terra, no senado defendem contra o MST e defendem os latifúndios; no ambiente universitário organizando grupos de estudos que legitimam a ideologia cristã dominante e do terrorismo de estado, no campo cercando terras e mantendo o trabalho escravo; na academia tornando-se tecnocratas a serviço do elitismo acadêmico, no campo defendendo a especulação das terras improdutivas e a exclusão social. Os grupos reacionários na universidade defendem aquilo que caracteriza o Brasil como um dos países mais atrasados e desiguais, o latifúndio e a desigualdade social.


Não seria surpresa se qualquer estudante advindo de uma família de operários repudiasse um discurso que diz que não existe nada de errado na universidade, que quem está nela é porque simplesmente merece estar, que somente esses são merecedores e valerem-se de um ensino pago por todos; não seria espanto que qualquer um que se colocasse em favor da igualdade de direito repudiasse um ideologia que se colocasse a favor dos latifundiários que perseguem e se armam contra o direito de indígenas, quilombolas e sem-terra de lutarem contra o latifúndio; não seria de estranharmos que qualquer um que se coloque contra o racismo rejeitasse a ideia simplista e mentirosa de que o fim da escravidão foi obtido simplesmente pela assinatura da princesa Isabel e que vivemos em uma democracia racial no Brasil, que não existe racismo aqui, pois somos um país de iguais. Qualquer um que não tenha a cabeça voltada para trás, que tenha um senso de discernimento entre realidade e fantasia, tomaria partido contra um discurso destes, o discurso de Bertrand. E foi isso que aconteceu no dia 28 Agosto.


Os mais de duzentos estudantes que foram contra a realização do evento do Príncipe, iam contra o racismo, a homofobia e contra, sobretudo, a concentração de terras e o massacre sobre os indígenas, quilombolas e movimentos sociais. A universidade agiu prontamente, escolheu 31 estudantes para sindicar, comprovando de que lado a direção desta unidade está, que interesses defende.
Até o momento desta postagem mais de 20 moções e notas de apoio aos sindicados, ou  contra a sindicância foram enviadas por diversas organizações, entidades, departamentos de curso (inclusive da própria unidade UNESP-Franca) e sindicatos, mostrando como é abrangente o repúdio  a sindicância dos estudantes que se colocaram contra o discurso de Bertrand. 


A direção da UNESP-Franca, prefere deixar falar os “príncipes” do que os trabalhadores; diz ser democrática, mas coloca-se em defesa da democracia para que uma ideologia que defende a opressão, a submissão, o interesse do latifúndio, mas nunca que um trabalhador fique a mesa para discutir sobre a universidade. Defende sobretudo o direito de fala a uma ideologia que prega a antidemocracia, que defende o direito de poucos sobre muitos; quem se coloca  contra esse discurso odioso é perseguido pela direção da instituição. Fernando Fernandes e seu grupo CIVI acusam de antidemocráticos os estudantes que estão contra Bertrand, mas defendem aqueles que se posicionam a favor de poucos falarem, de que poucos tenham direito sobre muitos, de que todos tenham que se curvar ao que o “príncipe” proclama. Querem uma universidade que esteja atrelada ao discurso do atraso, da especulação do latifúndio, contra os movimentos sociais e a favor do extermínio dos negros, indígenas e sem-terra. 

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