quarta-feira, 17 de abril de 2013

CARTA PÚBLICA DE RUPTURA COM A LER-QI


Venho através desta carta comunicar ao conjunto dos ativistas estudantis, sindicais e populares o meu desligamento da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI). Durante os últimos seis anos militei nas fileiras da LER-QI e, atuando no movimento estudantil e operário, estive empenhado na tarefa de contribuir na construção de um partido revolucionário no Brasil, instrumento histórico fundamental na luta dos explorados e oprimidos contra os exploradores.
Entretanto, nos últimos sete meses venho acumulando importantes diferenças políticas e estratégicas com a LER-QI. Lamentavelmente, a direção dessa organização vem apostando num curso cada vez mais sectário. O sectarismo é uma degeneração e historicamente cumpriu um papel nefasto levando o proletariado a inúmeras derrotas. Esse sectarismo da LER-QI fica evidente quando analisamos a política desse grupo em dois aspectos fundamentais da política nacional.
Em primeiro lugar, a completa omissão do grupo diante das direções do movimento de massas, em especial ao MST. Há muito tempo a LER-QI deixou de apoiar esse movimento contra os ataques da direita e do latifúndio e, por outro lado, também passou a se silenciar diante dos erros e capitulações da coordenação do MST. Ou seja, a LER-QI simplesmente passou a ignorar esse importante “ator” social. Essa omissão consciente se arrasta a todos os outros movimentos sociais e populares, como o MTST e outros. Desse modo, a LER-QI passou a atuar apenas conforme os seus próprios esquemas políticos, desprezando a complexidade, similaridades e diferenças desses movimentos.  O teórico e revolucionário Leon Trotsky, em 1938, já alertava que:

“Os sectários só são capazes de distinguir duas cores: o branco e o preto. Para não se expor à tentação, simplificam a realidade”.[1]

O segundo aspecto que demonstra o sectarismo da direção da LER-QI é que, se por um lado se silenciam diante dos movimentos sociais e da questão agrária, por outro, se concentram em críticas desproporcionais, e muitas vezes descabidas, aos principais processos de reorganização do movimento sindical e estudantil. Para os dirigentes da LER-QI a CSP-CONLUTAS e a ANEL, entidades que estão à frente das principais mobilizações operárias e estudantis do país, são seus principais adversários.
Essas posições não são apenas debates teóricos abstratos, pelo contrário, tem implicações práticas na política. Isso é o que explica por que a LER-QI até agora não se posicionou a respeito da realização da Marcha a Brasília que está sendo convocada pela CONLUTAS, ANEL ANDES, FERAESP, MST e outros movimentos. Ao invés de participar e construir esse importante processo de luta e resistência contra os ataques do Governo Dilma a LER-QI prefere deslegitimar esses legítimos espaços de luta pelas redes sociais. Outro exemplo surpreendente se deu em relação a heróica greve dos operários das obras da usina de Belo Monte. Abandonados por seu sindicato, ligado a Força Sindical, os operários iniciaram um movimento grevista que contou com o apoio e suporte da CONLUTAS desde seu primeiro dia. Esse apoio, com advogados, ativistas e atos, é perceptível através de um simples acesso a página dessa Central sindical. Mesmo assim, a direção da LER-QI, uma semana depois do início da greve (!), soltou uma nota sobre a greve exigindo que a CONLUTAS organizasse uma campanha. Ou seja, a LER-QI, apenas para se delimitar, exige ações que a própria CONLUTAS já vinha fazendo há uma semana. Ao invés de apoiar a campanha em curso a LER-QI se contenta em soltar uma declaração na sua página que a delimite da direção da CONLUTAS.
Esses exemplos refletem um problema de ordem estratégica desse grupo e é o que explica seus inúmeros erros táticos em distintas situações. Nesse sentido, não há qualquer possibilidade de continuar a militância nas fileiras da LER-QI. Entretanto, mantenho minha plena convicção no marxismo revolucionária, que em minha opinião hoje está cristalizado no trotskismo, e na luta por um movimento operário classista que se coloque, juntamente com os estudantes e o conjunto do povo pobre, na linha de frente contra os ataques do governo e dos patrões, na perspectiva do socialismo.  Por ora, continuarei minha militância através na CSP-CONLUTAS e na ANEL contribuindo para discutir e auxiliar, pacientemente, na formação política e teórica de novos companheiros do movimento estudantil e operário. 

Rafael Borges
ex delegado de base do campus de Franca no DCE da UNESP/FATEC




[1] Programa de Transição, 1938.

2 comentários:

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  2. É isso aí Borges, a luta revolucionária não pode ficar só no campo das idéias....
    Para uma luta revolucionária é preciso dialogar com as base...
    Boa sorte nessa sua nova caminhada..
    Tony Rocha

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